Adeus, ó dias e noites planetários,
adeus, ó minha infância, minha adolescência, minha vida de faces cuspidas e beijadas.
Adeus, carne poluída por tantas cumplicidades noturnas,
adeus, pactos, mulheres fugaces, amores fugaces,
adeus, febres povoadas de vencidos a sonharem com o domínio do mundo,
adeus, aventuras animadas de marujos mendigos
a sonhar com veleiros que nunca chegaram a seus portos;
adeus, gestos interrompidos, palavras entrecortadas, apelos incompreendidos,
adeus, todas as máscaras, todas as desistências
e todas as realizações sempre aparentes;
adeus, Mira-Celi, musas, sombras, símbolos,
adeus, mulheres que nunca se completaram,
faces dispersas entre as faces distantes e incompreendidas;
adeus!
Caminhei até os limites misteriosos da morte.
Revisto-me das vestes talares de seus impérios mágicos.
Uma força me impele para dentro de Deus.
Qual de tuas companheiras me aceitará como irmão, ó Mira-Celi?
Que asa do reinado de Cristo abrigará minhas angustiadas mãos?
Que onda da eternidade virá murmurar aos meus ouvidos?
Fonte: Lima, J. 1997. Jorge de Lima: poesia, 5ª edição. RJ, Agir. Poema publicado em livro em 1950.