12 outubro 2006

América

F. Ponce de León

Nas encostas íngremes, soldados encapotados.
Nas planuras logo abaixo, índios dançarinos acampados.
Naquele dia, um sol tênue e banal

iluminaria a morte em uma terra dura e congelada.

Imaginando que força eqüivalia à convicção
e que violência e arrogância abririam os portais de acesso àquela paisagem,
onde os nativos ainda costumavam dançar, celebrando os mistérios que não entendiam,

um exército de homens bem armados e ansiosos estava de prontidão.

Logo após o alvorecer, foi dada a ordem para que os nativos entregassem suas armas.
Algumas tendas foram derrubadas e seu conteúdo chutado e vasculhado.
Quando um soldado tentou revistar o corpo de um jovem guerreiro,

este sacou a arma que trazia escondida e atirou na direção do homem branco.

Foi então que o sangue vermelho-vivo começou a jorrar em profusão:
com a força e os argumentos acumulados pela nova civilização,
zunindo pelos canos lubrificados de rifles prateados e reluzentes,

sobre as costas seminuas de mulheres e crianças desarmadas que tentavam fugir.

Mais tarde, civis e soldados roubaram tudo o que encontraram,
enquanto, sob a luz seca e quase apagada do fim de tarde,
a turma dos coveiros ainda posava para as fotos ao lado das pilhas de corpos,

que foram empurrados e enterrados em uma vala comum, escavada logo ali.

Os poucos índios que não tombaram estão em uma reserva do governo,
sobrevivendo de uma pasta nojenta que os documentos chamam de comida.
Lá, um inspetor geral tem ordens para fazer o índio largar a manta,

e vestir calças... calças com bolsos... bolsos ansiosos por dinheiro.

(*) Versos livremente inspirados no livro de Frederick Turner, O espírito ocidental contra a natureza: mito, história e as terras selvagens (1990), publicado pela Editora Campus.

1 Comentários:

Anonymous Anônimo disse...

Hola, acabo de leer el blog, siempre tan interesante y dulce para leer. Me agradó la editorial, porque precisamente son esas características que describes la que lo distinguen y le dan calidez.
Un fuerte abrazo y mi deseo que esto siga adelante cada día con más fuerza. ¡No a la guerra!

21/11/06 21:25  

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