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Régis Bonvicino
Caminhou ao lado de um míssil
numa rua
que não explodiu
catadores rasgam,
pilham e abandonam
os sacos de lixo
negociantes de inutilidades
estrago de parasitas
árvores condenadas
podem desabar
a qualquer momento
com a chuva
a raiz da seringueira arrebenta a calçada
buraco aberto
pela explosão de uma bomba
vestes grosseiras,
peles de ovelha
assassinatos seletivos
colonos
dilatação intacta de uma bala,
no Pará, a genitália do boto
é vendida como
amuleto do amor
uma balsa naufraga em Bangaladesh
um tiro abate agora
mais um helicóptero
estupros como arma de guerra
elas também ficavam de bruços
La negra
piercings no nariz
uma explosão fere
palavras menos entregues
Fonte: poema enviado pelo próprio autor, a quem agradeço pela cortesia, e que integra o livro Página orfã (publicação prevista para março de 2007).
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