16 janeiro 2009

Pragmatismo

William James

1.
No prefácio à sua admirável coleção de ensaios, intitulada Heretics, Chesterton escreve essas palavras: “Há algumas pessoas – e eu sou uma delas – que pensam que a coisa mais prática e importante relativamente a um homem é ainda sua visão do universo. Achamos que para uma senhoria que considera o seu inquilino, o importante é conhecer os seus rendimentos, porém ainda mais importante é conhecer sua filosofia. Achamos que para um general prestes a combater um inimigo, o importante é saber o número de inimigos, porém mais importante ainda é saber a filosofia do inimigo. Achamos que a questão não é se a teoria dos cosmos afeta os negócios, e sim, porém, se a longo prazo são afetados por alguma coisa”.

Afino com Chesterton nesse particular. Sei que vocês, senhores e senhoras, têm uma filosofia, cada qual e todos vocês, e que a coisa mais interessante e importante é a maneira pela qual determina a perspectiva em seus diversos mundos. Vocês sabem o mesmo de mim. E, não obstante, confesso um certo tremor pela audácia da tarefa que estou prestes a encetar. Para a filosofia, o que é tão importante em cada um de nós não é um preparo técnico; é o nosso [senso mais ou menos comum] do que a vida honesta e profundamente significa. É somente em parte obtido nos livros; é a nossa maneira individual de ver e sentir exatamente a carga total e pressão do cosmos. Não tenho direito de presumir que muitos de vocês sejam estudantes do cosmos, no sentido escolar, porém aqui estou eu desejoso de interessá-los por uma filosofia que, em não menor extensão, tem de ser tratada tecnicamente. Desejo fazer com que simpatizem com uma tendência contemporânea, na qual acredito profundamente, e, entretanto, tenho de falar como um professor a quem não é estudante. Qualquer que seja o universo em que o professor acredite, deve ser, de qualquer modo, um universo que se preste a um discurso prolongado. Um universo definível em duas palavras é alguma para a qual o intelecto professoral não tem uso. Nenhuma fé em qualquer coisa de espécie tão barata! Temos visto amigos e colegas tentarem popularizar a filosofia nesse mesmo recinto, mas logo se tornam áridos e, então, técnicos, e os resultados somente em parte foram encorajadores. Desse modo, minha tarefa é ousada. O próprio fundador do pragmatismo deu recentemente um curso de conferências no Instituto Lowell, referente ao título em epígrafe – coriscos de luz brilhante dardejados contra a nossa ignorância crassa! Nenhum de nós, suponho, compreendeu tudo quanto ele disse – e, contudo, aqui estou eu, arriscando-me a uma aventura semelhante.
[...]

Fonte: James, W. 2006 [1907]. Pragmatismo. SP, Martin Claret.

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