21 setembro 2020

Baratas tontas a ziguezaguear


Felipe A. P. L. Costa [*].

As estatísticas deste domingo (20) acabam de ser divulgadas. De acordo com o Ministério da Saúde, foram registrados mais 16.389 casos e 363 mortes em todo o país. Teríamos chegado assim a um total de 4.544.629 casos e 136.895 mortes.

As estatísticas estão a se afastar do que era esperado. Ou, mais especificamente, do melhor resultado esperado (ver a figura que acompanha este artigo). E esta não é uma boa notícia.

Em primeiro lugar, é preocupante saber que as médias semanais das taxas de crescimento (casos e mortes) subiram.

A média semanal da taxa de crescimento no número de novos casos subiu de 0,65% (7-13/9) para 0,69% (14-20/9).

No caso do número de mortes, a média subiu de 0,55% (7-13/9) para 0,56% (14-20/9). Foi a primeira vez, desde o início da crise, que a média semanal da taxa de crescimento no número de mortes deixou de cair! As autoridades deveriam ver isso como um alerta.

Duas etapas.

Levando em conta as concordâncias e as discordâncias entre as estatísticas anunciadas e os resultados esperados (ver aqui, aqui, aqui, aqui, aqui e aqui), talvez possamos caracterizar melhor o que está a ocorrer desde o início de agosto dividindo o processo em duas etapas (ver a figura que acompanha este artigo).

Primeira etapa. Nas quatro primeiras semanas (3-30/8), os resultados observados concordaram bem com as projeções que fiz para um cenário RÁPIDO (queda de 0,2% por semana nas médias semanais).

Segunda etapa. Nas três últimas semanas (31/8-20/9), porém, as estatísticas concordaram melhor com as projeções que fiz para um cenário intermediário (queda de 0,15% por semana nas médias semanais).

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FIGURA. A figura que acompanha este artigo mostra os valores esperados para as médias diárias no número de novos casos (eixo vertical) em cinco cenários diferentes (a taxa cai 0,05%, 0,075%, 0,1%, 0,15% ou 0,2% por semana), até 27/9. No pior cenário, LENTO (linha vermelho escuro), a média seguiria aumentando até o fim de setembro – a rigor, até a primeira semana de dezembro (não mostrado), quando só então atingiria o seu máximo (111.521) e começaria a declinar. O gráfico mostra também os valores observados nas últimas sete semanas (Real; linha alaranjada). Entre 3 e 30/8, os resultados observados concordaram bem com a trajetória prevista para um cenário RÁPIDO. Entre 31/8 e 20/9, porém, os resultados se aproximaram mais da trajetória prevista para um cenário intermediário (queda de 0,15% por semana na média semanal).

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Coda.

Nas últimas três semanas (31/8-20/9), nós ziguezagueamos [1]. Como baratas tontas. E agora estamos empacados. De novo.

Como já ressaltei em artigos anteriores, é sempre uma péssima notícia quando as taxas de crescimento param de cair. Por vários motivos. Por exemplo, a um ritmo de queda menor nas médias semanais, as estatísticas permanecem em patamares elevados por mais tempo. Há um aumento ainda maior no número de novos casos e, por extensão, no número de mortes. A crise se prolonga e mais famílias são atingidas pela dor e pelo sofrimento.

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Notas.

[*] Para detalhes e informações sobre o livro mais recente do autor, O que é darwinismo (2019), inclusive sobre o modo de aquisição por via postal, faça contato pelo endereço meiterer@hotmail.com. Para conhecer outros livros e artigos, ver aqui.

[1] Em números absolutos, eis os somatórios das últimas sete semanas (casos e óbitos): 301.745 e 6.945 (3-9/8); 304.775 e 6.803 (10-16/8); 265.586 e 6.892 (17-23/8); 256.528 e 6.084 (24-30/8); 275.210 e 5.822 (31/8-6/9); 192.934 e 4.975 (7-13/9); e 214.174 e 5.270 (14-20/9).

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