12 outubro 2006

Pena de morte

F. Ponce de León

Nesta sala, onde a pena de morte vive,

ouço as batidas compassadas do teu coração

pulsante e inocente.


Vejo a espuma branca e espessa

que escorre pelo canto da tua boca retorcida.

E penso nas brincadeiras de quando éramos crianças...


Usando saliva para fazer bolinhos
de terra
ou limpar os joelhos ralados.
(Será que ainda pensas nisso?)

E nos dias de bicicleta na chuva.

De ruas escorregadias e janelas fechadas.

Dias compridos e agora tão distantes.


Tudo isso (e muito mais)

deve zunir e borbulhar em tua cabeça.


Enquanto teus olhos cinzentos

arregalam-se em derradeira despedida

dessas paredes mofadas.


Paredes que testemunharão

o fim dos teus sonhos,

depois que te assarem o cérebro.


De um jeito bem parecido

ao que nos acostumamos a fazer com os ovos.

0 Comentários:

Postar um comentário

<< Home

eXTReMe Tracker