A dádiva da Apollo
Carl Sagan
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Conhecemos a Lua desde os tempos primitivos. Ela já existia no céu quando nossos antepassados desceram das árvores para povoar as savanas, quando aprendemos a caminhar eretos, quando projetamos ferramentas de pedra, quando domesticamos o fogo, quando inventamos a agricultura, quando construímos cidades e começamos a dominar a Terra. Canções folclóricas e populares celebram uma misteriosa conexão entre a Lua e o amor. (...)
Foi só a alguns séculos que a idéia da Lua como um lugar, a uma distância de 384 mil quilômetros, entrou em voga. E, nesse breve bruxuleio de tempo, fomos dos primeiros passos para compreender a natureza da Lua até caminha e dar um passeio sobre a sua superfície. Calculamos como os objetos se movem no espaço; liquefizemos o oxigênio do ar; inventamos grandes foguetes, a telemetria, uma eletrônica confiável, o sistema automático de navegação giroscópica e muito mais. Então navegamos para o céu.
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A Lua já não é inatingível. Uma dúzia de seres humanos, todos norte-americanos, realizaram esses estranhos movimentos saltitantes que chamavam de “passeios lunares” sobre a antiga lava cinzenta, cheia de crateras, ruidosa ao ser esmigalhada – a partir daquele dia de julho de 1969. Mas, de 1972 em diante, nenhuma pessoa de qualquer nacionalidade se aventurou a voltar. Na realidade, nenhum de nós foi a lugar algum depois dos dias gloriosos de Apollo exceto a órbitas inferiores da Terra – como uma criança aprendendo a andar que ensaia alguns passos mais longe e depois, sem fôlego, recua para a segurança das saias da mãe.
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Fonte: Sagan, C. 1996. Pálido ponto azul. SP, Companhia das Letras.
2 Comentários:
Léon, "anula kanula" ou na tradução que Augusto de Campos fez do poema de Vozniessiênski "alunar anula". Ir e voltar, desaparecer, mas nunca sumir do imáginário dos homens: por isso a lua está lá sempre.
-É nas noites em que está cheia, plena, que experimento a maior das inquietações.
Oscar
blog legal
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