23 maio 2007

Vivendo em um mundo simbiótico

Lynn Margulis

A simbiose, o sistema em que os membros de diferentes espécies vivem em contato físico, nos parece ser um conceito misterioso e um termo biológico especializado, uma vez que não temos consciência de seu predomínio. Não apenas nossos intestinos e cílios estão infestados de bactérias e simbiontes animais, mas, se você observar seu quintal ou um parque, os simbiontes não estarão evidentes, mas eles são onipresentes. O trevo e a ervilhaca, ervas daninhas comuns, têm pequenas bolas nas raízes. São as bactérias fixadoras de [nitrogênio], essenciais para o crescimento saudável em um solo pobre em nitrogênio. Depois observe as árvores, o bordo, o carvalho e a nogueira. Mais de trezentos diferentes simbiontes fúngicos, a micorriza que observamos como cogumelos, estão entrelaçados em suas raízes. Ou olhe um cachorro, que geralmente nem percebe os vermes simbióticos presentes em seu intestino. Somos simbiontes em um planeta simbiótico e, se prestarmos atenção, podemos encontrar a simbiose em todos os lugares. O contato físico é um requisito inegociável para muitos tipos diferentes de vida.
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A noção de que as células de animais e plantas tiveram origem por meio da simbiose não é mais motivo de controvérsia. A biologia molecular, incluindo o seqüenciamento gênico, reivindicou esse aspecto de minha teoria da simbiose celular. A incorporação permanente de bactérias dentro das células de plantas e animais na forma de plastídeos e mitocôndrias é a parte da minha teoria da endossimbiose seqüencial que hoje aparece nos livros didáticos do ensino médio. Mas o verdadeiro impacto da visão simbiótica da evolução ainda está para ser sentido. E a idéia que novas espécies surgem de fusões entre membros de espécies antigas ainda não é sequer debatida na sociedade científica respeitável.
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Os seres vivos escapam a uma definição concisa. Eles lutam, se alimentam, dançam, acasalam, morrem. Na base da criatividade de todas as grandes formas de vida familiares, a simbiose gera inovação. Ela junta diferentes formas de vida, sempre por algum motivo. Muitas vezes a fome une o predador à presa ou a boca à bactéria fotossintética ou alga que é a vítima. A simbiogênese junta indivíduos diferentes para formar seres maiores, mais complexos. As formas de vida simbiogenéticas são ainda mais diferentes do que seus “pais” dessemelhantes. “Indivíduos” estão sempre se fundindo e regulando sua reprodução. Eles geram novas populações que se tornam novos indivíduos simbióticos compostos por múltiplas unidades. Estes se tornam “novos indivíduos” em níveis maiores, mais abrangentes de integração. A simbiose não é um fenômeno limitado ou raro. Ela é natural e comum. Residimos em um mundo simbiótico.
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Fonte: Margulis, L. 2001. O planeta simbiótico. RJ, Rocco.

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