Rubaiatas
Omar Iben Ibrahim El-Khaiami
1.
Ó Allah,
incerto, vacilante,
sem rumo,
inteiramente desorientado,
não consigo provar
a realidade do Teu ser.
Profundas meditações,
trabalhosas lucubrações
são simples devaneios,
pesquisas no vácuo
em busca da Tua existência,
que não consigo vislumbrar.
Em sã consciência,
não posso compreender
de que modo Tu existes,
embora muita gente
consagre e descreva
os mais fantasiosos predicados
que Te resolveram emprestar.
A conclusão de tudo isso
é que ninguém Te poderá conhecer
– com exceção de Ti mesmo.
2.
Somos joguetes
nas mãos do Destino.
Simples brinquedos,
à nossa custa
diverte-se o Universo.
Joguetes
que vivem redemoinhando
ao sabor dos ventos.
Não se trata de metáfora,
nem há exagero no que digo:
esta é a realidade.
No passado,
ingenuamente brincávamos
no tablado da vida.
Seremos hoje,
uns após outros,
carregados
no féretro do não-ser.
3.
Se me tivessem consultado
sobre minha vinda
até estas paragens,
eu teria dito: – Não!
A própria existência,
se dependesse da minha vontade
tê-la ou não a ter,
eu opinaria
pela negativa.
Lastimei-me!
Quando me queixei
por haver caído
neste cárcere asfixiante!
Lamentei haver nascido,
crescido
e vivido nele!
Lamentações e mais lamentações!
4.
Ó Allah,
se me consideras
escravo desobediente,
rebelado,
onde estão,
dize-me,
Tua benevolência
e Teu perdão?
Será duro e negro meu coração,
pérfida minh’alma:
mas onde se encontra
toda essa Tua pureza,
em que espaços fulgirão
as luzes da Tua bondade?
Se me acenas
com as delícias do Paraíso
como prêmio
de uma indigna submissão,
será isso um abarganha supeita
que mercadores ávidos
gostariam de fazer.
Que diferença entre Ti e eles
haveria então?
Assim, desconcertado e confuso,
como poderei exaltar
a Tua compreensão,
a Tua magnificência,
a Tua divindade?
Fonte: Khayyám, O. 2005. Rubáiyát. SP, Martin Claret. A obra completa contém 182 rubaiatas, as quatro primeiras das quais são reproduzidas aqui. Obra e autor são comumente grafados como “Rubáiyát” e “Omar Khayyám”, respectivamente.
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