Soletrado das folhas da Sibila
Gerard Manley Hopkins
Grave, imaterial, igual, harmonizante, abarcante, voluminoso… assombroso,
O anoitecer quer ser do tempo a vasta noite, útero-de-tudo, morada-de-tudo, tumba-de-tudo.
Seu doce crescente de luz amarela, enrolado para o poente, sua erma oca luz grisalha, na altura pendente,
Desmaiam; suas estrelas primeiras, estrelas princesas, estrelas principais, debruçam-se sobre nós,
Em fogo mapeando o céu. Pois a terra seu ser desatou, seus matizes se apagam, ex-
traviando-se, esfriando, entrando uns pelos outros em tropel; ser em ser imersos, esmagados, – de todo
Deslembrados, desmembrados agora. Coração, é certo o que me sussurras:
Nossa tarde baixa sobre nós; nossa noite engolfa-nos, engolfa-nos, e dá cabo de nós.
Só os galhos com folhas em boca-de-dragão adamascam a luz baça, de aço; negros,
Nigérrimos contra ela. Nossa história, Ó nosso oráculo! Que a vida minguante, ah! que a vida enrole
Suas meadas, outrora variegadas, mescladas, raiadas – junte tudo em dois carretéis; separe, aparte, encurrale
Seu tudo agora só em dois bandos, dois rebanhos: preto, branco; certo, errado. Calcule apenas, apenas pense, imagine
Só estes dois; cuidado com um mundo onde estes dois apenas contem, um do outro separados; uma tortura
Onde, em si-mesmos espremidos, a si mesmos amarrados, desembainhados, sem abrigo, pensamentos contra pensamentos trituram-se em gemidos.
Fonte: Hopkins, G. M. 1989. Poemas. SP, Companhia das Letras. Poema originalmente publicado em 1918.
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