O meu condado
António Nobre
No campo azul da alada fantasia
Edifiquei outr’ora, por meu mal,
Castelos de oiro, esmalte e pedraria,
Torres de lápis-lazúli e coral.
N’uma extensão de léguas, não havia
Quem possuísse outro domínio igual:
Tão belo, assim tão belo, parecia,
O território de um senhor feudal...
Um dia (não sei quando, nem sei d’onde),
Um vento agreste de indiferença e spleen
Lançou por terra, ao pó que tudo esconde,
O meu condado – o meu condado, sim!
Porque eu já fui um poderoso conde,
N’aquela idade em que se é conde assim...
Fonte: Figueiredo, C. 2004. 100 poemas essenciais da língua portuguesa. BH, Editora Leitura. Poema originalmente publicado em 1892.
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