Se uma lágrima indo
Maria Alberta Menéres
Se uma lágrima indo
durasse desde o olho
aos pés e me lavasse
por dentro o abandono
sem se gastar nas puras
arestas afiadas
Se uma lágrima indo
me inundasse as espáduas
me corresse nas ancas
desenhasse o trajeto
ate aos pés e fosse
como um rio concreto
entre profundas pedras
sereno e perfurado
de pequenos destinos
pouco mais que silábicos
sem se gastar fugindo
aos dedos da paisagem
ocultando do sol
o brilho inimitável
Se uma lágrima indo
assim desde um princípio
para um fim que talvez
não seja um precipício
me lavasse de mim
Uma lágrima apenas
me daria outras horas
estas horas as mesmas.
Fonte: Melo e Castro, E. M. 1973. O próprio poético. SP, Quíron. Poema originalmente publicado em 1962.
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