19 fevereiro 2008

Comer melhor e matar menos

Robert Goodland

Sustentabilidade ambiental significa mudanças no estilo de vida que permitam manter capital natural. Manter o capital natural constante, por sua vez, significa manter inalterados os serviços ambientais tanto de fonte quando de [sumidouro] do ecossistema. [...]

De todas as mudanças necessárias à obtenção de sustentabilidade ambiental, escolhi a da dieta porque não há ainda nenhum consenso sobre isso; nem mesmo que ela seja uma questão legítima de política agrícola ou desenvolvimento econômico. As tendências globais no momento estão se precipitando na direção errada, distanciadas do curso sustentável. O tópico de dieta e segurança alimentar prejudica principalmente o pobre, e não o rico. O rico sempre poderá comprar a dieta que desejar. [...]

As pessoas afluentes dos países da OCDE [Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Econômico] consomem anualmente cerca de 800 kg de grãos indiretamente [...], a maior parte deles convertida ineficientemente em carne animal, com o contrapeso de leite, sorvete, queijo, ovos e iogurte. Tais dietas contém um alto teor de gorduras e proteínas e um baixo teor de amido. Em contraste, nos países de baixo consumo, o uso de cereais na alimentação atinge uma média de 200 kg por pessoa por ano, praticamente todo ele de forma direta, como ineficiência na conversão. Tais dietas são ricas em amido e pobres em gordura e proteínas. A proporção de consumo de grãos entre países ricos e pobre é de quatro para um [...].

O gado de corte na engorda consome sete quilos de cereal para produzir um único quilo de peso em pé. O porco abocanha quase quatro quilos de grãos para cada quilo de peso em pé. A galinha e o peixe são conversores mais eficientes, precisando apenas de dois quilos de grão para cada quilo de peso em pé produzido. A produção de queijo e ovos é mais eficiente que a suína, mas é menos do que a de aves e peixes, requerendo 3 e 2,6 kg de cereais por quilo de produto, respectivamente. Pelo fato de tantas pessoas se alimentarem de carne, a média global de cereais convertidos em carne situa-se entre 35% e 40% de toda a produção graneleira mundial. Os dois países que mais transformam grãos em carne são os Estados Unidos e a China – com 160 e cerca de 100 milhões de toneladas, respectivamente [...]. Surge, então, a pergunta: os indivíduos mais prósperos do mundo aceitariam simplificar sua alimentação por uma razão do tipo saúde, ética, igualdade, meio ambiente, economia ou religião? Os cereais assim liberados seriam distribuídos para prevenir a fome e a desnutrição onde e quando necessário?

Fonte: Goodland, R. 1997. Sustentabilidade ambiental: comer melhor e matar menos. In Cavalcanti, C., org. Meio ambiente, desenvolvimento sustentável e políticas públicas. SP & Recife, Cortez & Fundação Joaquim Nabuco.

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