Mapeando o sistema nervoso
Marian S. Dawkins
A maior ruptura na compreensão da maneira pela qual o sistema nervoso gera comportamento ocorreu com a descoberta, pelo menos em invertebrados, de que poderia ser mostrado que células nervosas individuais identificáveis tinham certas atribuições específicas na produção do comportamento. Esta idéia, proposta primeiramente por Wiersma no início dos anos [1950], não foi unanimemente aceita senão 15 anos depois, quando o uso de corantes permitiu, pela primeira vez, que fossem traçadas claramente as conexões de uma dada célula nervosa. As células nervosas individuais, longe de serem entidades anônimas numa multidão de outros neurônios, começaram a ser vistas como tendo identidade própria. Não foi revelado apenas que uma célula nervosa tinha certas conexões específicas com outras células, mas também que uma célula muito similar com conexões similares, podia ser encontrada em outros indivíduos da mesma espécie.
[...] As células nervosas e suas conexões podem ser mapeadas como os diagramas de circuito de um computador e os mapas se aplicam para todos os indivíduos de uma espécie.
Um mapa particularmente bem conhecido é o circuito do comportamento de saltar de um gafanhoto. Uma célula conhecida como detector lobular gigante de movimento (LGMD), encontrada na base de cada olho, recebe conexões de diferentes partes do olho e responde a movimentos no campo visual do gafanhoto. Os gafanhotos têm também uma célula chamada detector contralateral descendente de movimento (DCMD), que está conectada à LGMD. A DCMD se conecta diretamente com outras células nervosas, e estas são responsáveis pela ativação dos músculos que estendem as patas para o salto. Ao mesmo tempo, a DCMD se conecta com uma outra série de motoneurônios que ativam os músculos flexores das patas, mas que os inibe de contrair. Estas conexões inibitórias dos motoneurônios flexores evitam que o gafanhoto tente estender e flexionar suas patas ao mesmo tempo, de maneira que as conexões excitatórias possam ativar as patas sem interferência.
Assim, a rota pela qual os estímulos visuais, recebidos pelo olho, que levam um gafanhoto a pular foi, pelo menos parcialmente, mapeada [...]. É possível testar os procedimentos de células nervosas em particular, marcar suas conexões com outras células nervosas e aprender muito sobre como o comportamento é gerado.
Fonte: Dawkins, M. S. 1989. Explicando o comportamento animal. SP, Manole.
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