Como trabalha o mineiro
Domitila Barrios de Chungara
Na mina há dois sistemas de trabalho: o do pessoal técnico e o outro, o trabalho do mineiro.
A mina não pára. Trabalha dia e noite. E para isto dividiram os trabalhadores em três turnos. Alguns mudam de turno mensalmente, outros quinzenalmente e outros semanalmente. Meu companheiro, por exemplo, muda de turno cada semana.
Há três turnos por dia. Contando o tempo necessário para entrar à mina no comboio e para sair da escavação, o primeiro turno ingressa às seis da manhã e sai às três da tarde; o segundo entra às duas da tarde e sai às onze da noite e o terceiro entra às dez da noite e sai às seis da manhã.
Quando o trabalhador está no primeiro turno, as mulheres têm que levantar às quatro da manhã para preparar o desjejum ao companheiro. Às três da tarde ele chega da mina e até a esta hora não comeu nada. Porque não tem como levar comida dentro da mina. Não é permitido. Ademais, queimará ao passar por tanto lugares dentro da mina. Há tanto pó, tanto calor, na parte das dinamites que explodem, que, se chegassem a comer algo, comeriam uma coisa que lhes faria mal. Seria necessário organizar tudo de outra maneira. E a empresa diz que não é possível fazer isto. Se a empresa quisesse, poderia fazer corredores limpos e higiênicos ali dentro. Mas não lhe interessa. A empresa outorga estes tratamentos preferenciais aos técnicos. [...]
Fonte: Viezzer, M. 1987 [1978]. “Se me deixam falar...”, Domitila: depoimento de uma mineira boliviana, 13ª edição. SP, Global.
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