O estatuto epistêmico dos termos teóricos
Jean Ladrière
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Em certo sentido, a teoria só depende de si mesma, posto que é ela que permite interpretar os resultados experimentais graças aos quais podemos submetê-la à prova. E, efetivamente, é porque é fonte autônoma de sentido, porque confere aos termos que utiliza um sentido que provém de seus próprios procedimentos, que ela é capaz de se fundar assim em si mesma. Contudo, ela não é um simples sistema formal. Por intermédio das relações semânticas, que asseguram aos seus termos um ponto de ancoragem no real, ela remete ao mundo e às operações que aí se desenrolam. A interpretação fornecida pela teoria é uma interpretação que se critica a si mesma. A intervenção do horizonte de experimentação, se contribui para fazer aparecer o conteúdo de sentido da teoria, também serve para testar sua validade. De resto, uma interpretação jamais se impõe absolutamente. Há lugar para diversos esquemas de compreensão e, por conseguinte, para um confronto entre interpretações diversas. Se a própria experiência deve sempre ser interpretada, a crítica de um sistema dado de interpretação não pode consistir simplesmente em trazer à luz um fato experimental que bastaria para pôr em questão o sistema. Um fato só é utilizável quando interpretado. Mas uma outra interpretação pode, ao iluminar certos fatos com um novo enfoque, servir de base a uma crítica efetiva. É, pois, no interior do campo da interpretação que a interpretação se critica a si mesma, mas por intermédio do campo de experimentação.
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Fonte: Ladrière, J. 1978. Filosofia e práxis científica. RJ, Francisco Alves.
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