15 novembro 2010

E são tantas

Marina Colasanti

As ruínas da guerra fedem
a urina e fezes.
Naquilo que foi casa
e vida alheia
os homens
como cães
erguem a pata
sobrepondo um desprezo
a outro desprezo.

Das ruínas da guerra
o vencedor não diz
foi meu trabalho
nem põe placa de bronze com seu nome.
Ninguém chama ao desfeito
construção
embora a destruição seja uma obra.

As ruínas da guerra
são cracas a arrancar da terra.
E a elas a vida não se achega
porque a boca da morte
ainda bafeja.

Fonte: poema publicado no livro Passageira em trânsito (2010), de Marina Colasanti, e republicado aqui com o devido consentimento da autora, a quem agradeço pela cortesia.


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