10 novembro 2010

Teorias e leis biológicas

David L. Hull

Depois de tudo o que foi dito nos capítulos precedentes sobre as teorias genéticas e evolucionistas, poderá parecer um tanto gratuito abordarmos neste ponto a questão seguinte: existem ou não teorias ou leis biológicas? Entretanto, numerosas características das teorias e leis que examinamos até agora conspiram para levar alguns filósofos, por exemplo, J. J. C. Smart [...], a argumentar que “não há teorias biológicas” análogas às teorias solidamente construídas da Física; “não existem sequer leis biológicas”. Mas que dizer da genética mendeliana, da genética molecular, da teoria genética da evolução, da teoria sintética da evolução, da axiomatização de [Mary B.] Williams da teoria darwiniana e das teorias da biologia de populações de Levins, Lewontin, MacArthur, Wilson e outros? Não são teorias científicas: Não contêm leis biológicas? Filósofos como Smart encontraram razões para rejeitar cada uma dessas teorias biológicas propostas. Na medida em que essas teorias possuem a requerida coerência para ser classificadas como genuínas teorias científicas, não são verdadeiramente biológicas. Na medida em que são verdadeiramente biológicas, não são genuínas teorias científicas.

Duas questões parecem implícitas na maioria das objeções levantadas contra os exemplos mais comuns de teorias e leis biológicas. Primeiro, muitos dos exemplos de leis que encontramos na literatura biológica não são leis de processo, isto é, leis que permitem a inferência de todos os estados passados e futuros do sistema, dados os valores para as variáveis pertinentes em qualquer momento escolhido. A tendência dos sistemas biológicos é para não serem suficientemente fechados, de modo a permitirem a formulação de tais leis. Em contextos biológicos, outros tipos de generalizações tendem a ocupar o lugar das leis de processo – leis causais, leis de desenvolvimento e leis históricas. Certos autores são propensos a rejeitar logo tais generalizações. Neste capítulo, investigaremos cada uma dessas supostas espécies de lei biológica, a fim de apurar se pode ser considerada uma lei científica genuína. Mesmo admitindo que as lei do processo são, num certo sentido, o ideal que nos esforçamos por atingir, ainda parece haver ampla justificação para investigar as leis que ficam aquém desse ideal, especialmente quando se apresentam como parte integrante da ciência para o futuro previsível. Mesmo que se conclua serem as teorias e leis biológicas menos que perfeitas, algumas são menos ‘imperfeitas’ do que outras. Há boas razões para analisar e comparar essas criações ‘imperfeitas’.
[...]

Fonte: Hull, D. 1975. Filosofia da ciência biológica. RJ, Zahar.


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