27 dezembro 2010

A borralheira

Luís Guimarães Júnior

Meigos pés pequeninos, delicados
Como um duplo lilás, – se os beija-flores
Vos descobrissem entre as outras flores,
Que seria de vós, pés adorados!

Como dois gêmeos silfos animados,
Vi-vos ontem pairar entre os fulgores
Do baile, ariscos, brancos, tentadores...
Mas – ai de mim! – como os mais pés calçados.

“Calçados como os mais! que desacato!
Disse eu. – Vou já talhar-lhes um sapato
Leve, ideal, fantástico, secreto...”

Ei-lo. Resta saber, anjo faceiro,
Se acertou na medida o sapateiro:
Mimosos pés, calçai este soneto.

Fonte: Martins, W. 1978. História da inteligência brasileira, vol. 4. SP, Cultrix & Edusp. Poema publicado em livro em 1880.


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