11 dezembro 2011

A armadilha universal

Paul Goodman

Uma conferência de especialistas em desistência das escolas discutirá os antecedentes da pobreza, a privação cultural, o preconceito racial, problemas familiares e emocionais, mudança de bairros, a mobilidade urbana. Ela pesquisará expedientes engenhosos para neutralizar essas condições, embora não procure remediá-las – isso não é da sua alçada. Será sugerida a propaganda – por exemplo, sem escolarização não há trabalho – para fazer com que os jovens voltem às escolas. É axiomático que eles devam estar nas escolas.

Decorrido um ano, verifica-se que é necessário realizar outra conferência para enfrentar o fato alarmante de que mais do que 75% dos jovens que haviam sido persuadidos a voltar, haviam novamente abandonado as escolas. Eles teimam em falhar; não estão suficientemente motivados. Quais as mudanças curriculares que deverão ter lugar? Como podem os professores aprender o estilo de vida dos subprivilegiados?

Curiosamente abafada nessas conferências está a questão que coloca a responsabilidade disso de uma outra maneira: de onde são essas desistências? Será a escolaridade realmente boa para eles, ou para qualquer pessoa? Desde que, para muitos, existem tais dificuldades com a atual estruturação das coisas, não poderiam outras disposições serem inventadas? Ou falando claramente, desde que a escolaridade se compromete a ser compulsória, não deveria continuamente rever a sua pretensão de ser útil? Será ela o único meio que temos de educar? Não é pouco provável que qualquer tipo único de instituição social pudesse acomodar quase todos os jovens de até 16 anos e até mais velhos do que isso? (Está previsto que em 1970, 50% freqüentarão faculdades.)
[...]

Fonte: Marin, P ; Stanley, V. & Marin, K., orgs. 1984 [1975]. Os limites da educação escolar. RJ, Francisco Alves. Texto originalmente publicado em 1964.

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