Visita ao Turk’s Head Pub
Em meio à bruma iluminada
por essa luz amarela e ácida
que se dissolve nela como tinta em água,
caminhas sem saber aonde vais.
A aparência da realidade te surpreende,
faz-te perguntar-se se não és uma aparição
entre aparições.
Por que voltaste outra vez ao mundo?
Para aprender tudo que aprendeste?
Para reaprender os nomes das coisas,
o odor da lavanda fresca que cresce entre as pedras,
o eco de teus passos nas calçadas molhadas
como espelhos que multiplicam o silêncio da noite
e que se rompem num grito mudo?
Para reconhecer as coisas desgastadas?
A aldrava de bronze da porta que abriste mil vezes?
Deténs-te no umbral do Pub antes de entrar,
talvez ninguém te reconheça
nem reconheças ninguém.
Contudo, o murmúrio incessante,
o tintim dos copos que brindam,
os espelhos que reproduzem de quando em quando teu rosto,
que reproduzem a realidade em movimento
enquanto avanças, como se navegasses por um rio,
vão te fazer sentir-se à vontade,
esquecido da morte.
Então alguém se aproximará de ti e pronunciará teu nome,
falará de tua vida como se falasse de outro,
então terás voltado a inventar.
Fonte: Costa, H. 1992. Antologia de poesia hispano-americana atual. Revista USP 13: 186-205. Poema – com a dedicatória “A Ulalume González de León” – publicado em livro em 1989.
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