Como a anestesia silencia a dor?
Bruce Fellman
No dia 16 de outubro de 1846, Gilbert Abbott dormia durante o momento em que entrou para a história da medicina. Ele havia dado entrada no Hospital Geral de Massachusetts, em Boston, para extirpar um tumor do pescoço, e a cirurgia atraiu uma multidão de médicos incrédulos. Não deram a Abbott a proverbial bala para morder, nem tampouco o encheram de uísque para matar a dor. Foi-lhe simplesmente dito – por um dos primeiros anestesistas do mundo, um dentista de nome William T. G. Morton – que respirasse fundo.
Depois que o paciente mergulhou na inconsciência, “todos que ali estavam esperavam ouvir, a qualquer instante, um grito de agonia quando a faca tocasse nos nervos sensíveis”, a mulher de Morton relatou mais tarde. “Mas a faca entrou e nenhum grito foi ouvido.” Quando a operação terminou, o cirurgião se voltou para a platéia e disse: “Cavalheiros, isto não foi nenhuma tapeação”. O que ele não disse foi como a anestesia funcionava.
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Keith Miller, farmacologista de Harvard, explica que, a despeito das metáforas, sono e estado anestésico não são muito semelhantes. “Quando você está dormindo, a maioria de seus reflexos permanece intata e você ainda pode reagir a muitos estímulos”, observa. “Se você cutucar um camundongo quando ele estiver dormindo, irá acordá-lo.” Um camundongo sob anestesia, entretanto, não acordará. Tampouco um paciente.
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Fonte: Leigh, J. & Savold, D., orgs. 1991 [1988]. O dia em que o raio correu atrás da dona-de-casa... e outros mistérios da ciência. SP, Nobel.
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