Mágica
Mário Cesariny
É uma estrada no céu
silenciosa
um anão sem ninguém que o
suspeite
é um braço pregado a uma
rosa
um mamilo escorrendo
leite
São edénicos anjos
expulsos
sonhando quietude e
distância
são homens marcados nos
pulsos
é uma secreta elegância
São velhos demónios
ociosos
fitando o céu bailando ao
vento
são gritos rápidos,
nervosos
que destroem todo o
pensamento
É o frio deserto marinho
operando na escuridão
é o corpo que geme
sozinho
é a veia que é coração
São aranhas jovens,
pernaltas
arrastando embrulhos para
o mar
são altas colunas tão
altas
que o chão ameaça estalar
São espadas voantes são
vielas
passeios de todos e
nenhuns
são grandes rectas
paralelas
são grandes silêncios
comuns
É uma edição reduzida
das aras da história
sagrada
é a técnica mais proibida
da mágica mais procurada
É uma estrada no céu
silenciosa
por um domingo extenso e
plácido
é um anoitecer cor de
rosa
um ar inocente, ácido
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