Ao contemplar o crânio de Schiller
J. W. von Goethe
No severo ossuário foi
que eu vi
Caveiras e caveiras ordenadas;
Pensei no velho tempo encanecido
Os que outrora se
odiaram, em cerradas
Filas
estão, e ossadas duras, que se f’riram
De morte, jazem mansas e cruzadas.
Ombros desconjuntados!
Quem pergunta
O que
outrora carr’garam? e activos membros gráceis,
Mãos, pés arrancados das junturas da vida.
Em vão, cansados membros,
vos deitastes;
Nem na cova repouso vos deixaram,
Expulsos outra vez pra o dia claro;
E ninguém pode amar a
casca seca,
Precioso que fosse o cerne que encerrou.
Mas a mim, adepto, se revelou a escrita,
Que nem a todos abre o
sagrado sentido,
Quando, no meio de tal turba hirta,
Uma forma avistei de beleza tão sem preço
Que na angústia e frieza
pútrida da câmera
Eu livre e quente me reanimei
Qual se de entre a morte brotasse fonte
viva.
Como essa forma de
mistério me encantou!
Signo de Deus pensado, que assim se
conservou!
Olhar que me arrastou às praias daquel’mar
Que em maré cheia arroja
figuras sublimadas.
Secreto vaso! que dás sentenças de oráculo,
Serei eu digno de te ter na mão, a ti,
Tesouro excelso, que
piedoso arranco
Da podridão, devoto me voltando
Para o ar livre e livre meditar à luz do
sol.
Que pode o homem ganhar
mais nesta vida,
Do que
se lhe revele a Natureza-Deus?
Ao vê-la sublimar a matéria firme do
Espírito,
E firme conservar o que o Espírito criou.
Fonte: Goethe, J. W. 1986
[1790]. A metamorfose das plantas. SP,
Edições Religião & Cultura. Poema datado de 1826. Para um poema de Schiller,
ver aqui.
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