15 novembro 2020

Origem e evolução das cidades

Gideon Sjoberg

O que é uma cidade? É uma comunidade de dimensões e densidade populacional consideráveis, abrangendo uma variedade de especialistas não agrícolas, nela incluída a elite culta. Tenho fortes razões para mostrar a importância do papel da elite culta na vida urbana. Embora a linguagem escrita tenha levado séculos em sua evolução, sua presença serve como um meio conveniente de distinguir as comunidades genuinamente urbanas das outras que mesmo de grandes dimensões e alta densidade de população devem ser consideradas quase urbanas ou não urbanas. [...]

Sabe-se que as primeiras cidades formaram-se por volta de 3500 aC, no vale compreendido pelo Tigre e o Eufrates. [...]

Essas primeiras cidades eram muito parecidas [...]. Tinham uma base cultural e técnica semelhante. O trigo e a cevada eram os produtos agrícolas, o bronze [era] o metal, o arado era acionado por tração animal e havia veículos usando rodas. O líder da comunidade representava ao mesmo tempo o poder secular e o religioso; o tributo do campo ao deus da cidade era armazenado nos templos. [...]

Apesar da considerável diversidade cultural entre os povos do Oriente Próximo, da Ásia e do Novo Mundo, as primeiras cidades em todas essas regiões tinham em comum certas formas de organização. A dominante era a teocracia – apenas um líder acumulava as funções de rei e chefe espiritual. A elite morava na cidade; e mais, ela e seus dependentes congregavam-se particularmente no centro da cidade. [...] Tal concentração tinha uma dupla importância: em uma época em que a comunicação e o transporte eram rudimentares, a proximidade entre os membros da elite incentivava o intercâmbio de ideias; e, ao mesmo tempo, dava à classe dominante a máxima proteção contra ataques externos.

A uma distância maior desse núcleo urbano encontravam-se as lojas e residências dos artesãos – pedreiros, carpinteiros, ferreiros, joalheiros, ceramistas – muitos dos quais serviam à elite. A divisão do trabalho em ofícios, aparente nas primeiras cidades, tornou-se mais complexa com o decorrer do tempo. [...] Os mais pobres viviam nos arrabaldes da cidade, como alguns dos trabalhadores agrícolas; e, finalmente, suas habitações penetravam pelo campo.

A cidade, desde o seu início como residência de especialistas, tem sido contínua fonte de inovação. De fato, o próprio aparecimento das cidades acelerou fortemente a transformação social e cultural; usando um termo do arqueólogo inglês V. Gordon Childe, podemos dizer que a revolução urbana foi tão importante como a revolução agrícola que a precedeu e a revolução industrial que a segui. A cidade, de diversas maneiras, funcionava como um incentivo ao progresso.

Fonte: Sjoberg, G. 1977 [1967]. In: Vários. Cidades: A urbanização da humanidade. RJ, Zahar.

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