24 janeiro 2021

Canção de alta noite

Cecília Meireles

Alta noite, lua quieta,
muros frios, praia rasa.

Andar, andar, que um poeta
não necessita de casa.

Acaba-se a última porta.
O resto é o chão do abandono.

Um poeta, na noite morta,
não necessita de sono.

Andar... Perder o seu passo
na noite, também perdida.

Um poeta, à mercê do espaço,
nem necessita de vida.

Andar... – enquanto consente
Deus que a noite seja andada.

Porque o poeta, indiferente,
anda por andar – somente.
Não necessita de nada.

Fonte (estrofe 5): Ferreira, A. B. H. 2009. Novo dicionário Aurélio da língua portuguesa, 4ª ed. Curitiba, Positivo. Poema publicado em livro em 1942.

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