“Não é torcida. É matemática” – Monitorando a apuração e prevendo o resultado
1. O TAMANHO DO ELEITORADO.
De acordo com o Tribunal Superior Eleitoral, 155.756.933 brasileiros poderiam ter ido votar no segundo turno das eleições.
Não chegou a tanto. No domingo (30/10), compareceram e votaram 124.252.796 eleitores – algo como 79,8% do máximo possível.
Dos que compareceram, 118.552.353 eleitores produziram votos válidos. Outros 5.700.443 compareceram, mas não produziram votos válidos – foram 1,7697 milhão de votos brancos e 3,9308 milhões de nulos [1].
Dos 118.552.353 votos válidos, 60.345.999 (50,9% do total) foram dados ao candidato vitorioso; outros 58.206.354 (49,1%) foram dados ao candidato derrotado.
2. MONITORANDO A APURAÇÃO.
Em 2020, eu monitorei a apuração dos votos durante a eleição presidencial nos Estados Unidos. O monitoramento me permitiu prever com segurança e antecedência de alguns dias (bem antes, por exemplo, de qualquer manchete em nossa imprensa) não apenas a vitória de um dos candidatos, mas também a margem exata de votos que o vitorioso teria no colégio eleitoral [2].
Conforme relatei em artigo sobre o assunto publicado neste GGN (ver aqui), em 12/11/2020 (sem grifo no original):
“[L]ogo percebi que o percentual de votos destinados ao candidato democrata crescia à medida que aumentava o total de votos apurados [...]. E não era uma relação frouxa ou errática. Ao contrário, era uma relação estreita e consistente, a ponto de permitir que se calculasse como e quando o candidato democrata ultrapassaria o republicano. E não deu outra…”
Algo assim ocorreu aqui no domingo. Com a ressalva de que o processo de apuração por lá levou dias, enquanto aqui não foram necessárias mais do que duas horas até que se descobrisse o nome do candidato vitorioso.
Fazer previsões não é nenhum bicho de sete cabeças. Ou, como diria um amigo meu, falando a respeito de estatísticas e probabilidades eleitorais, “Não é torcida. É matemática”.
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3. VIRADA LENTA E INEXORÁVEL.
A figura que acompanha este artigo ilustra a trajetória da apuração. No âmbito da nossa conversa, duas coisas são dignas de nota. (1) Na maior parte do tempo, o candidato que viria a ser derrotado permaneceu à frente da disputa. Uma possível explicação para isso tem a ver com a ordem de divulgação dos resultados parciais (e.g., no início da apuração – na primeira metade, digamos – houve um predomínio de votos oriundos de regiões ou estados onde o candidato derrotado teve relativamente mais votos).
Para fins de análise, porém, o ponto mais importante aqui é o seguinte: O candidato que ao final se revelaria vitorioso estava em trajetória ascendente desde o início (diga-se: ao menos desde x = 9,44%) (ver a figura que acompanha este artigo). Além disso, dentro dessa ‘trajetória de ascensão permanente’, é possível identificar alguns ‘surtos de aceleração’. Esses surtos seriam decorrentes da computação de votos oriundos de regiões ou estados onde o candidato vitorioso ganhou por margens bem superiores à sua média nacional.
Considere, por exemplo, o que houve nas etapas A e C indicadas na figura que acompanha este artigo. Na etapa A, o percentual de votos dados ao candidato vitorioso cresceu muito mais rapidamente do que na etapa C. Seguramente por que, durante a etapa A, estavam a ser computados votos oriundos de regiões onde o candidato vitorioso tinha uma vantagem bem superior à sua média nacional [3].
4. CODA.
Pouco depois de a apuração ter se iniciado (digamos, ao menos por volta de x = 9,44%), foi se tornando cada vez mais claro e evidente que o resultado final da eleição era um alvo fixo e previsível.
Ao contrário do que foi dito em algumas matérias publicadas na imprensa (e.g., aqui e aqui), o resultado da eleição nada teve de espetaculoso ou imprevisível. Ao contrário, conforme tentei mostrar neste artigo, a trajetória da apuração não exibiu qualquer ‘sobe e desce’ nem se assemelhou a uma ‘caminhada de bêbado’.
É fato que o candidato que se revelaria vitorioso permaneceu muito tempo atrás. Mas não era difícil perceber que o percentual do candidato estava a crescer – e a crescer sem parar – à medida que a apuração avançava. Em tais circunstâncias, a virada é praticamente inevitável. Torna-se, portanto, algo bastante previsível [4]. Em outras palavras: Depois que as urnas se fecham e a apuração tem início, tudo se resume a fazer algumas contas.
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NOTAS.
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[1] Não vem ao caso discutir isso aqui, mas desconfio que boa parte dos votos nulos é fruto de erros involuntários.
[2] Lembrando apenas que o sistema eleitoral nos EUA, além de ter uma apuração bem mais lenta, resulta em um processo de escolha bem menos democrático que o brasileiro.
[3] Por exemplo, o candidato vitorioso ganhou em MG, BA e PI. Porém, (1) No Piauí e na Bahia, os percentuais de votos dados a ele foram bem superiores ao de Minas Gerais; e (2) O número de eleitores do PI é bem inferior ao de MG, de sorte que o peso relativo deste último estado na construção da média nacional é bem superior ao do primeiro estado.
[4] Com apenas cerca de um quarto dos votos apurados, eu mesmo passei a tratar a virada como certa e inevitável. Ainda que as minhas primeiras estimativas (e.g., virada em 52%) tenham se revelado precipitadas. (A virada terminou ocorrendo com 68% dos votos apurados.)
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