A socialização da reprodução
Christopher Lasch
A socialização da reprodução completou o processo iniciado pela socialização da própria produção, isto é, pela industrialização. Depois de ter expropriado os trabalhadores de suas ferramentas e concentrado a produção na fábrica, os industriais, durante as primeiras décadas do século XX, passaram a expropriar também os conhecimentos técnicos do operário. Através da ‘direção científica’ parcelaram o processo de produção, atribuíram uma função específica a cada operário na linha de montagem e guardaram para si próprios o conhecimento do processo produtivo como um todo. A fim de administrar esse conhecimento, criaram um gigantesco aparato gerencial – um exército de engenheiros, técnicos, gerentes de pessoal e psicólogos do trabalho – retirados do mesmo grupo de especialistas técnicos que, ao mesmo tempo, supria as ‘profissões assistenciais’. O conhecimento converteu-se numa indústria em si mesmo, enquanto o operário, destituído do saber do ofício através do qual havia conservado o controle prático da produção mesmo depois da introdução do sistema de fábrica, mergulhou numa dependência passiva. [...] A socialização da produção – sob o controle da indústria privada – proletarizou a força de trabalho da mesma maneira que a socialização da reprodução proletarizou a paternidade, tornando as pessoas incapazes de prover suas próprias necessidades sem a supervisão de especialistas profissionais.
Fonte: Lasch, C. 1991 [1977]. Refúgio num mundo sem coração. RJ, Paz & Terra.
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