A suavizar o golpe de uma nova teoria
Alvar Ellegård
A teoria da seleção natural foi o único aspecto que distinguiu Darwin dos anteriores evolucionistas, dos quais Lamarck pode ser considerado o primeiro porta-voz. Temos, portanto, a situação paradoxal de que, dez anos após a publicação de Darwin, quase todos os que estavam em posição de julgar haviam sido convertidos à evolução, não na forma de Darwin, mas na versão que as mesmas pessoas, alguns anos antes, haviam declarado ser inteiramente falha e não científica. A teoria da seleção natural encontrou, positivamente, resistência incomparavelmente mais forte que a teoria da evolução como tal. Esta circunstância justificaria, por si, a afirmativa de que a seleção natural ferira a ideologia da época em ponto mais vital do que o fez a teoria da evolução pura e simples. [...]
[O] próprio Darwin contara com o doloroso reajustamento que sua teoria provocaria e, diligentemente, procurou suavizar o golpe. [...] Ao mesmo tempo, por suas concessões aos sentimentos religiosos do público, Darwin, indubitavelmente, tornou mais difícil aos leitores compreenderem sua teoria. A maneira pela qual a teoria da seleção natural foi mal interpretada pela imprensa foi – como Darwin frequentemente se queixou em sua correspondência – simplesmente incrível. É óbvio que os críticos não queriam entender, e, até certo ponto, Darwin encorajou as divagações. [...]
Hoje, dificilmente se duvida de que o processo básico da variação seja resultado do acaso. Mas levou muito tempo para que isso fosse determinado experimentalmente, e é interessante notar que, cada vez que alguma experiência tem parecido contradizer essa suposição, tem ela sido agarrada e anunciada pelos biólogos de inclinação metafísica e pelos leigos, como indicação de evolução predeterminada. É significativo que entre romancistas e poetas – em geral, na realidade, entre os não cientistas – é essa espécie de evolucionismo que sempre tem sido predominante.
Fonte: Hardin, G., org. 1967. População, evolução & controle da natalidade. SP, Nacional & Edusp. Excerto de artigo originalmente publicado em 1956.
Hoje, dificilmente se duvida de que o processo básico da variação seja resultado do acaso. Mas levou muito tempo para que isso fosse determinado experimentalmente, e é interessante notar que, cada vez que alguma experiência tem parecido contradizer essa suposição, tem ela sido agarrada e anunciada pelos biólogos de inclinação metafísica e pelos leigos, como indicação de evolução predeterminada. É significativo que entre romancistas e poetas – em geral, na realidade, entre os não cientistas – é essa espécie de evolucionismo que sempre tem sido predominante.
Fonte: Hardin, G., org. 1967. População, evolução & controle da natalidade. SP, Nacional & Edusp. Excerto de artigo originalmente publicado em 1956.
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