16 abril 2025

O roteiro de Kant

Hans Küng

Para o ateu continuam sem resposta aquelas últimas e, ao mesmo tempo, primeiras perguntas eternas sobre a vida humana, as quais não se abafam por nenhuma proibição, perguntas que se fazem não só nas fronteiras da vida, mas no bojo da vida individual e social. Se seguirmos o roteiro de Kant:

O que podemos saber? Por que existe algo? Por que não há o nada? Donde vem o homem e para onde vai? Por que o mundo é como é? Qual é a razão última e sentido de toda a realidade?

O que podemos fazer? Por que fazemos o que fazemos? Por que e a quem somos responsáveis? Qual é o sentido da fidelidade e amizade, e também do sofrimento e da culpa? O que é decisivo para o homem?

O que podemos esperar? Para que existimos? Qual é o sentido do conjunto? O que nos resta: a morte que, no fim, torna tudo absurdo? O que nos deve infundir coragem para viver e para morrer?

Portanto, perguntas, todas elas, a apontarem para a totalidade: perguntas não só reservadas a agonizantes, mas aos vivos. Não só para fracalhões e desinformados, mas precisamente para informados e engajados. Não desculpas para não agir, mas incentivos para a ação. Existirá algo que, em tudo, nos sustente, que jamais nos deixe desesperar? Um algo contínuo dentro de todas as mudanças, um incondicional em todo o relativo, um absoluto de permeio com o condicionado presente por toda parte? São perguntas a que o ateísmo não sabe responder.

Fonte: Küng, H. 1976. Ser cristão. RJ, Imago.

0 Comentários:

Postar um comentário

<< Home

eXTReMe Tracker