Desarmar espíritos
Ademir Antônio Bacca
Há tiros nas ruas de Bagdá e Cabul
enquanto meninos russos correm nus
pelas ruas de Beslan
fugindo de balas perdidas.
De repente
parece que o relógio quebra o tempo
em duas partes,
uma marcando as páginas de jornal
com sangue inocente
a outra, enterrando de vez
nossas esperanças de paz.
Há tiros no Morro da Rocinha
e no subúrbio de Madri
enquanto crianças russas
são enterradas em Beslan
diante de nossos olhos estarrecidos.
Como ousar pronunciar a palavra paz
se não somos capazes de desarmar
nosso espírito de vingança?
Há medo nas ruas de Bagdá e Cabul
enquanto a paz se equilibra
num último fio de esperança em Tel Aviv,
à espera do próximo disparo.
Fonte: poema publicado na antologia Paz – Um vôo possível (2004, Editora Age) e republicado aqui com o devido consentimento do autor, a quem agradeço pela cortesia.
2 Comentários:
felipe,
grato pela publicação do meu poema
no teu blog
grande abraço
"Como ousar pronunciar a palavra paz se não somos capazes de desarmar nosso espírito de vingança?"
Reflexão aguda, afiada. Lâmina-palavra.
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