24 dezembro 2006

Igrejas universais

Arnold J. Toynbee

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As principais religiões elevadas que ainda sobrevivem são o hinduísmo, o judaísmo, o zoroastrianismo, o budismo, o cristianismo e o islamismo. (...)

O budismo, o cristianismo e o islamismo têm sido – ou se tornaram – integralmente universalistas. Cada uma dessas três religiões se decidiu a converter a humanidade; e, apesar de que a continuação da existência de todas as três é prova de que nenhuma teve êxito na realização de sua ambiciosa finalidade comum, cada uma delas conseguiu converter continentes inteiros, abarcando os domínios regionais de diferentes civilizações; e cada uma delas realizou isto por meio de veículos rudimentares de comunicação, únicos meios à sua disposição antes do “aniquilamento da distância” trazido pelo moderno avanço da tecnologia. (...)

As emoções humanas, a consciência e a vontade não são coletivas; mas sim faculdades de um ser humano individual; e a vida espiritual de uma pessoa – de cada pessoa que participa das relações sociais – é o campo em que deve ser travada a luta espiritual pelo autodomínio. Essa é a tarefa mais urgente do homem, e também a mais difícil. É difícil porque o homem é um ser vivo, e todo ser vivo é egocêntrico por natureza. O egocentrismo é, na verdade, outro nome para a própria vida e a vitória sobre tal estado de coisas é um tour de force. Entretanto, é apenas na medida em que um ser humano realiza esse tour de force que pode ter relações sociais satisfatórias com seus semelhantes – e o homem não pode estabelecer relações fora da sociedade. (...)

Na vida humana, o egocentrismo só pode não causar desastres na medida em que seja dominado na vida íntima espiritual de cada membro da sociedade. “O sofrimento é a chave do conhecimento”, e o espetáculo dos sofrimentos auto-infligidos, que destruiu sucessivas tentativas de civilização, abriu o olhos dos fundadores das religiões superiores. Eles entenderam que a salvação deve ser procurada, não no cmapo das relações sociais, mas no íntimo espiritual da pessoa, e que nesse campo a salvação só pode ser obtida pelo autodomínio. Essa é a razão pela qual esses videntes se dirigiram aos seus semelhantes, os seres humanos, como pessoas, e não como participantes da sociedade. É também a razão pela qual ensinaram que o autodomínio é indispensável pré-requisito para o estabelecimento de uma relação correta entre a pessoa humana e a suprema realidade espiritual.
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Fonte: Toynbee, A. J. 1987. Um estudo da história. SP & Brasília, Martins Fontes & Editora da UnB.

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