Impermanência
Silvia Rubião
Que as margens
devolvam ao percurso
o acumulado
restos de um tal rio
deserdado, que
mesmo por fluir, deixa
o leito escasso, quase estranho
embora brilhe
o limo desfolhado
posto à deriva
de um ponto cego onde
o vazio reencontra a sua via
impermanente
Algo que se adere
bordeja nas franjas
infenso a golpes
permanece
assim na superfície
ou apenas transparece
num vago alento, o que no fundo
recupera
ramagens esgarçadas
seixos intocados
ao negar nestes domínios o mesmo
que o corpo
tão afoito
na certeza de afogar-se
expõe a um só tempo
ainda agora, em outro extremo
em vão tenta diluir
a beleza irresoluta
que súbito
submerge
Fonte: poema publicado na edição de outubro de 2005 da revista eletrônica A máquina do mundo e republicado aqui com o devido consentimento da autora, a quem agradeço pela cortesia.
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