De onde vêm os algarismos?
Georges Ifrah
Este livro começou pelas perguntas de crianças. Eu ensinava matemática e, como todo bom pedagogo, esforçava-me por não deixar nenhuma interrogação, por mais estranha ou ingênua que parecesse, sem resposta. A inteligência nutre-se freqüentemente da curiosidade.
Aquela manhã o estudo dos sistemas de numeração estava na ordem do dia. Um curso conscientemente preparado obrigava-me então a explicar, ponto por ponto, a impecável maneira que temos de escrever os números mediante algarismos arábicos e a mostrar, na mesma ocasião, a possibilidade teórica de passar da dezena a uma outra base sem por isso modificar as propriedades dos números nem a natureza das técnicas operatórias que nos são particulares. A gente se preparava, portanto, para um curso de matemática dos mais comuns. Era um desses cursos que seria dado para você em qualquer liceu da França e que os professores repetem infatigavelmente cada ano desde que existe essa honrosa instituição que se chama o Ensino Secundário.
Só que, para seu modesto servidor, a Providência, ou antes, a Inocência não quis que esse dia fosse inteiramente como os outros! Alguns alunos – que se esperaria não encontrar todos os dias no caminho, posto que o contato com eles pode metamorfosear sua existência – lançaram-me suas dúvidas mais intestinas. Colocaram-me questões tão simples que por um instante fiquei sem voz: “Senhor, de onde vêm os algarismos? – Quem inventou o zero?”
De onde vêm os algarismos, com efeito? Esses símbolos tão cotidianos que nos parecem comumente tão evidentes que temos a impressão – bem enganadora – de que apareceram de uma vez só como o presente acabado de um deus ou herói civilizador. A questão era desconcertante e confesso nunca tê-la colocado para mim mesmo:
– Eles vêm de... da noite dos tempos – respondi com muita hesitação, mal disfarçando minha ignorância.
(...)
Fonte: Ifrah, G. 1997. História universal dos algarismos, vol. 1. RJ, Nova Fronteira.
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