23 abril 2007

Gnu atropelado

F. Ponce de León

Ontem à tarde,
um jovem gnu-azul
morreu nesta cidade.
Nesta maldita cidade.

Não foi de garras
e dentes, como tantas
vezes o é com seus amigos
e parentes africanos.

Depois de caído,
ainda foi atropelado
por um ônibus que
insistia na contramão.


O motorista passou
ostentando um sorriso
urbano, daqueles que se vê
quando o sarcasmo triunfa.

O gnu ficou bem aqui,
no meio da rua,
sobre este mesmo
asfalto quente e oleoso.


Só não há marcas, pois –
estranhamente – nenhuma
gota de sangue jorrou até que
o corpo reencontrasse a terra nua.

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