16 dezembro 2007

À manha de domingo de Wallace Stevens

Jorge Wanderley

Manhã, claro jardim de antiga renda vegetal
mantida em grades de onde outrora o mar se via;
manhã filtrada nos cabelos de tua mulher,
ô meu poeta,
que deitada sobre um passado grego ainda não sabe
se vai, se jamais foi
à missa.

Tudo é manhã no teu poema de inverno
onde o sol é apenas uma memória de sol,
saudade dele;
os canários verdes; o robe
entreaberto, por onde uma cadência de pernas
ressoa em acordes mornoquentes.

Tua imaginação ou tua vizinha,
eis que no corpo dela algo ainda dorme
na manhã alta.

Não em ti, que a vês ou pensas
e de tua velhice desperta descobres o amor
entre duas ou três invenções
sonolentas
e jovens:
a tumba no vale e seu antagonista, o cômoro,
a complacência do robe e umas lembranças de Deus.

Fonte: Wanderley, J. 2001. Antologia poética. SP, Ateliê Editorial. Poema originalmente publicado em 1980. Para ler o poema de Wallace Stevens, clique aqui.

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