Fantasia do crepúsculo
Friedrich Hölderlin
Descansa o lavrador à sua porta
E vê o fumo do lar subir, contente.
Hospitaleiramente ao caminhante
Acolhem os sinos da aldeia.
Voltam os marinheiros para o porto.
Em longínquas cidades amortece
O ruído dos mercados; na latada
Brilha a mesa para os amigos.
Aí de mim! de trabalho e recompensa
Vivem os homens, alternando alegres
Lazer e esforço: por que só em meu peito
Então nunca dorme este espinho?
No céu da tarde cheira a primavera;
Rosas florescem; sossegado fulge
O mundo das estrelas. Oh! levai-me,
Purpúreas nuvens, e lá em cima
Em luz e ar se me esvaia amor e mágoa!
Mas, do insensato voto afugentado,
Vai-se o encanto; escurece, e, solitário
Como sempre, fico ao relento.
Vem, suave sono! Por demais anseia
O coração; um dia enfim te apagas,
Ó mocidade inquieta e sonhadora!
E chega serena a velhice.
Fonte: Bandeira, M. 2007. Estrela da vida inteira. RJ, Nova Fronteira.
0 Comentários:
Postar um comentário
<< Home