22 março 2008

A abordagem cladista

Roger Lewin

A abordagem cladista foi originalmente desenvolvida pelo sistemata alemão Willi Henning em 1950, e nos últimos anos tornou-se a abordagem escolhida por muitos pesquisadores na paleoantropologia. Como resultado, a literatura está se tornando semeada de terminologia cladística, o que, infelizmente, inclui um verdadeiro enrolar de línguas. Por exemplo, caracteres derivados compartilhados são sinapomorfias. Caracteres primitivos são simplesiomorfias. Um caracter não compartilhado com outras espécies é uma autapomorfia. Caracteres convergentes são homoplasias.

Determinar relações entre espécies envolve dois passos. Primeiro, as homologias devem ser separadas das homoplasias, o que exige cuidadosa atenção com as armadilhas da convergência funcional. Em segundo lugar, as polaridades dos estados dos caracteres homólogos devem ser estabelecidas: são primitivos (plesiomórficos) ou derivados (apomórficos)? Como esta polaridade é determinada?

Suponha, por exemplo, que se investiga o espessamento ósseo sobre os olhos, encontrado na linhagem de chimpanzés, gorilas e seres humanos, mas não nos orangotangos. Este torus supra-orbital é uma sinapomorfia (caracter derivado compartilhado) unindo os três como um clado? Ou poderia ser uma simplesiomorfia (caracter primitivo compartilhado) para hominóides que foi perdido no orangotango? A resposta é obtida procurando-se abaixo na hierarquia, em espécies mais distantemente aparentadas. Este processo é conhecido como uma comparação com um grupo de fora. Neste caso, examinar-se-ia um gibão e um macaco do Velho Mundo, por exemplo. O torus supra-orbital está ausente em macacos do Velho Mundo, o que implica que realmente é uma sinapomorfia para símios africanos e os seres humanos. Assim, a partir destes critérios, os símios africanos e os seres humanos formam um grupo monofilético, ou clado.
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Fonte: Lewin, R. 1999. Evolução humana. SP, Atheneu.

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