O rebanho e o homem
José Carlos Capinan
O rebanho trafega com tranqüilidade o caminho:
é sempre uma surpresa ao rebanho que ele chegue
ao campo ou ao matadouro.
Nenhuma raiva
nenhuma esperança o rebanho leva,
pouco importa que a flor sucumba aos cascos
ou ainda que sobreviva.
Nenhuma pergunta o rebanho não diz:
até na sede ele é tranqüilo
até na guerra ele é mudo –
o rebanho não pronuncia,
usa a luz mas nunca explica a sua falta
usa o alimento sem nunca se perguntar.
Sobre o rebanho o sexo
que ele nunca explicava
e as fêmeas cobertas
recebem a fecundidade sem admiração.
A morte ele desconhece e a sua vida,
no rebanho não há companheiros
há cada corpo em si sem lucidez alguma.
O rebanho não vê a cara dos homens
aceita o caminho e vai escorrendo
num andar pesado sobre os campos.
Fonte: Hollanda, H. B., org. 2001 [1976]. 26 poetas hoje, 4ª edição. RJ, Aeroplano.
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