06 julho 2008

Mães e filhas

Jane Goodall

[...] Na selva, quase todas as mães cuidam de seus filhotes de modo relativamente eficiente. Mesmo assim, existem nítidas diferenças entre as mães nas técnicas de criação dos filhotes. Seria difícil encontrar duas fêmeas cujas mães as tivessem tratado de forma mais diferente durante seus primeiros anos do que a filha de Flo, Fifi, e a filha de Passion, Pom. Na verdade, Flo e Passion encontram-se nas extremidades opostas de uma escala: a maioria das mães se encaixa em algum ponto entre esses dois extremos.

Fifi teve uma infância despreocupada – uma infância maravilhosa. A velha Flo era uma mãe altamente competente, afetuosa, tolerante, brincalhona e protetora. Figan era parte integral da família quando Fifi estava crescendo, participando de suas brincadeiras quando Flo não estava com vontade e freqüentemente apoiando a irmã mais jovem em suas brigas infantis. Faben, o filho mais velho de Flo, também estava quase sempre por perto. Flo, que era a mais importante entre as fêmeas, quando a conheci, era também muito comunicativa. Passava bastante tempo com os outros membros de sua comunidade e mantinha um relacionamento tranqüilo e amigável com a maioria dos machos adultos. Nesse meio ambiente social, Fifi tornou-se uma criança autoconfiante e positiva.

A infância de Pom, em comparação com a de Fifi, foi terrível. A personalidade de Passion era tão diferente da de Flo quanto a água do vinho. Mesmo quando a conheci, no início dos anos 60, ela já era uma solitária. Não havia nenhuma fêmea que fosse sua companheira íntima, e nas ocasiões em que encontrava-se em grupo com machos adultos seu relacionamento com eles era tipicamente difícil e tenso. Foi uma mãe fria, intolerante e brusca, e raramente brincava com a filha, em particular durante os dois primeiros anos. E Pom, tendo sido o primeiro filhote dela a sobreviver, não tinha irmãs com quem brincar durante as longas horas em que ela e a mãe ficavam sozinhas. Seus primeiros meses foram muito difíceis e ela se tornou uma criança ansiosa e dependente, sempre com medo de que a mãe fosse embora e a deixasse para trás.

Assim, não chega realmente a surpreender que Pom e Fifi tenham reagido de forma diferente aos vários desafios que uma jovem fêmea deve enfrentar ao crescer na selva.
[…]

Fonte: Goodall, J. 1991. Uma janela para a vida. RJ, Jorge Zahar.

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