28 junho 2008

Vila de Barbacena

Auguste de Saint-Hilaire

Tendo passado o Registro Velho avistamos, do alto de uma crista, a Vila de Barbacena, e lá chegamos, depois de caminhar cerca de seis léguas a partir de Mantiqueira.

Julgava que Barbacena, situada na extremidade das imensas florestas que acabávamos de atravessar, não apresentasse mais que uma reunião de miseráveis choupanas, e fiquei agradavelmente surpreendido de encontrar uma pequena cidade que pode rivalizar com todas as da França de igual população.

Essa localidade, que depende da comarca do Rio das Mortes, não era antigamente mais que uma povoação, e tinha o nome de Arraial da Igreja Nova. O Visconde de Barbacena, governador da Província das Minas, ficou impressionado com a localização vantajosa dessa povoação; concedeu-lhe privilégios, fez erigi-la em vila por um decreto do ano de 1791, deu-lhe seu nome, e para lá atraiu habitantes. Contam-se aí, atualmente, cerca de duzentas casas com uma população de 2.000 almas, e avalia-se a paróquia em 9 ou 10.000 almas em um raio de dez léguas aproximadamente.
[...]

No dia em que chegamos a Barbacena, falaram-nos de um desses espetáculos ridículos denominados presépio, em que se fazem representar por títeres, cenas tiradas da Sagrada Escritura. Resolvemos a princípio ir ver o presépio; mas renunciamos logo ao projeto quando soubemos por um oficioso que era a nós que queriam fazer pagar o custo do espetáculo. Em Barbacena, e provavelmente alhures, ninguém paga nada à porta do presépio; mas os atores proclamam honrosamente o nome dos que querem que custeiem a função, e, ao mesmo tempo, apresentam-lhes um prato em que depositam seu dinheiro. Freqüentemente se nomeia um comparsa antes do estrangeiro escolhido para vítima; aquele coloca generosamente no prato uma soma que se lhes restitui depois, e o acanhamento impede a pessoa que não está no segredo de dar menos que os que o precederam. Estavam tão resolvidos a proceder conosco dessa maneira, que o espetáculo deixou de se realizar quando se soube que nós não pretendíamos assisti-lo. Aliás, o espetáculo de Barbacena, freqüentado principalmente por mulheres da má vida, não era mais, ao que parece, senão um lugar de tolerância.
[...]

Fonte: Saint-Hilaire, A. 1975 [1830]. Viagem pelas províncias do Rio de Janeiro e Minas Gerais. BH & SP, Itatiaia & Edusp.

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