Tatuagem
Maria Teresa Horta
Ossifico a dor
o dia
Tatuagem
de tatuar o espaço
livre
onde a queda
a neve
ou o meio-dia
multiplica
a multiplicação
do sangue
um sulco claríssimo
um regresso de
células nas veias
qualquer coisa
de vário
ou de estanho
a moleza branca
de um calor
rosado
Tatuagem feita
vezes quatro
aquidade espessa
de chuva sem
passagem
olhos animais de cornos
azuis
e perfilados
com lágrimas por dentro
ou neve ossificada
Tatuagem
tatuo no ventre um filho
Mãe depois e nunca
verificada
Mãe de ovários
duros
e peitos madrugada
com um amante
por noite
um animal
uma harpa
Ou qualquer coisa
de bom
de esquecimento
de sono
o para sempre estar deitada
as pernas
sementes várias
o para sempre estar escolhida
entre mulheres
sem imagem
Tatuagem
violada
que se traz sob um dos
braços
uma agudeza
de água
epiderme rouca e parca
Partida
sem ser viagem
ou despedida
ou embarque
Tatuar
de tatuagem
sede de queda
oxidada
Fonte (para as primeiras oito estrofes): Melo e Castro, E. M. 1973. O próprio poético. SP, Quíron. Poema originalmente publicado em 1961.
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