21 agosto 2008

Colibri

D. H. Lawrence

Posso imaginar, em algum outro mundo
De silêncio primevo, muito remoto
Naquela sua imobilidade terrível, apenas arfando e zumbindo,
Colibris a precipitar-se pelas avenidas.

Antes que alguma coisa tivesse alma,
Enquanto a vida era uma onda de matéria, meio inanimada,
Essa pequena lasca de brilho
Saiu a zunir pelas hastes lentas, imensas, suculentas.

Acredito que não havia flores então,
No mundo em que o colibri cintilava à frente da criação.
Acredito que ele furava as lentas veias das plantas com seu longo bico.

Era provavelmente grande
Como o musgo e os pequenos lagartos, dizem, eram outrora grandes.
Era provavelmente um monstro aterrorizador, apunhalador.
Nós o vemos pelo lado errado do telescópio do Tempo,
Felizmente para nós.

Fonte: Dawkins, R. 2000. Desvendando o arco-íris. SP, Companhia das Letras. Poema originalmente publicado em 1923.

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