25 janeiro 2009

Os imperativos institucionais da ciência

Robert K. Merton

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A ausência virtual de fraudes nos anais da ciência, que parece excepcional quando comparada com outras esferas de atividade, foi atribuída às qualidades pessoais dos cientistas. Por implicação, os cientistas se recrutam entre as fileiras dos que apresentam um grau pouco habitual de integridade moral. Não há, na realidade, provas satisfatórias de que isso seja assim; pode-se encontrar uma explicação mais admissível em certas características distintivas da própria ciência. Ao implicar, como implica, a verificabilidade dos resultados, a pesquisa científica está debaixo do controle exigente dos colegas peritos. Em outras palavras – e a observação poderá sem dúvida ser interpretada como lesa-majestade – as atividades dos cientistas estão submetidas a um policiamento rigoroso, sem paralelo, talvez, em qualquer outro campo de atividade. A exigência de desinteresse tem firme alicerce no caráter público e testável da ciência e podemos supor que essa circunstância contribui para a integridade do homem de ciência. Existe competição no campo da ciência, competição que se intensifica pela importância que se dá à prioridade como critério de realização e, em condições competitivas, podem surgir incentivos para eclipsar os rivais por meios ilícitos. Mas esses impulsos encontram escassas oportunidades para se manifestarem no campo da pesquisa científica. Cultismo, camarilhas informais, publicações prolíficas mas banais – podem-se usar essas e outras técnicas para a promoção pessoal. Mas, em geral, as pretensões espúrias parecem ser [negligentes] e ineficazes. A transformação da norma de desinteresse em prática é firmemente apoiada pela necessidade que os cientistas têm, mais cedo ou mais tarde, de prestar contas perante seus colegas. Coincidem em grande parte os ditames do sentimento socializado e da conveniência, situação está que conduz à estabilidade institucional.
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Fonte: Deus, J. D., org. 1979. A crítica da ciência, 2ª edição. RJ, Zahar. Texto originalmente publicado em 1967.

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