Paris é uma festa
Ernest Hemingway
Estava na época do mau tempo. Chegaria a qualquer momento, no fim do outono. Teríamos de fechar as janelas à noite, por causa da chuva, e o vento fio arrancaria as folhas das árvores da Place Contrescarpe. As folhas ficariam no chão, encharcadas, o vento atiraria a chuva contra os grandes ônibus verdes no ponto terminal, e o Café des Amateurs ficaria cheio de gente, suas janelas embaçadas pelo calor e pela fumaça lá de dentro. Era um café triste e mal administrado o Amateurs, onde os beberrões do bairro se apinhavam e do qual eu me mantinha afastado por causa do cheiro de corpos sujos e do azedo da embriaguez. Os homens e mulheres que o freqüentavam viviam bêbados todo o tempo ou, pelo menos, sempre que tinham dinheiro para isso, gastando seus recursos principalmente em vinho, que compravam aos meios litros ou aos litros. Havia anúncios de muitos aperitivos com nomes estranhos, mas poucos clientes se dignavam tomá-los, exceto como preparação para os copos e copos de vinho com que se embebedariam. As mulheres que se embriagavam eram chamadas de poivrottes.
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Fonte: Hemingway, E. 1991 [1964]. Paris é uma festa, 6ª edição. RJ, Civilização Brasileira.
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