22 junho 2009

Quando o Conhecimento foi ao norte

Chuang-Tzu

O Conhecimento vagueou ao norte
Procurando pelo Tao, acima do Mar das Trevas
E acima da Montanha Invisível.
Lá na montanha, encontrou
O Não-Agir, o Sem-Palavras.
Perguntou:
“Poderia informar-me, Senhor,
Por qual sistema de pensamento
E técnica de meditação
Poderei apreender o Tao?
Por qual renúncia
Ou retiro solitário
Posso repousar no Tao?
Onde devo começar,
Qual o caminho a seguir
Para alcançar o Tao?”
Estas foram as três perguntas.
O Não-Agir, o Sem-Palavras
Não respondeu.
Não apenas isto,
Nem mesmo sabia
Como responder!

O Conhecimento foi ao sul,
Para o Mar Brilhante,
E subiu a Montanha Luminosa,
Chamada “Fim da Dúvida”.
Lá encontrou
O Ato-Impulso, o Profeta-Inspirado,
E fez as mesmas perguntas.
“Ah, respondeu o Inspirado,
Tenho as respostas e as revelarei!”
Mas, exatamente quando as ia revelar,
Esqueceu-se de tudo que tinha em mente.
O Conhecimento não obteve resposta.
Assim, o Conhecimento foi afinal
Ao palácio do Imperador Amarelo,
E lhe fez as perguntas.
O imperador respondeu-lhe:
“Exercitar o não-pensamento
E seguir a não-via da meditação
É a primeira maneira de se entender o Tao.
Habitar em nenhum lugar
E em nada repousar
É a primeira maneira para repousar no Tao.
Começar do nenhum lugar
E não seguir nenhuma estrada
É o primeiro passo para atingir o Tao”.

O Conhecimento respondeu: “Você sabe isto
E agora eu o sei. Mas os outros dois
Não o sabiam.
Que me diz isto?
Que não têm razão?”
Respondeu-lhe o Imperador:
Só o Não-Agir, o Sem-Palavra,
Estava com toda a razão. Ele não sabia.
O Ato-Impulso, o Profeta-Inspirado,
Parecia estar com a razão
Porque se esquecera.
Quanto a nós,
Nem chagamos próximos a ter razão,
Porque estamos com as respostas,
Pois “aquele que sabe não diz,
Aquele que diz não sabe”.
E “o sábio instrui
Sem o uso da fala”.

Esta história foi repetida
Ao Ato-Impulso
Que concordou com a maneira
Do Imperador interpretá-la.
Não contaram
Que o Não-Agir jamais ouviu a história
Ou fez qualquer comentário.

Fonte: Buzzi, A. R. 1978. Introdução ao pensar, 7ª edição. Petrópolis, Vozes. p. 185. O nome do autor, que viveu no século 4 a.C., é grafado também como Zhuangzi.

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