Testando a obediência
Stanley Milgram
Com freqüência, quando há uma idéia, ela tem vários pontos de origem. Ela não se desenvolve necessariamente em forma linear daquilo que se havia feito anteriormente. Eu estava trabalhando para Asch, em Princeton, Nova Jersey, em 1959 e 1960. Estava pensando no seu experimento sobre pressão do grupo. Uma das críticas que haviam sido feitas aos seus experimentos é que eles tinham uma falha quanto à consistência, porque, afinal, um experimento em que as pessoas fazem julgamento a respeito de linhas tem realmente um conteúdo manifestamente trivial. Assim, a pergunta que me fiz foi: Como isso pode ser transformado num experimento mais significativo do ponto de vista humano? E pareceu-me que, se ao invés de um grupo exercer pressão sobre julgamento a respeito de linhas, ele pudesse levar a alguma coisa mais significativa vinda da pessoa, então isto traduziria mais um passo em direção a uma maior significância dada ao comportamento induzido pelo grupo. Poderia um grupo, eu me perguntava, induzir uma pessoa a agir com rigor contra outra pessoa? E, uma vez que a minha inclinação natural é chegar até a base das coisas, vislumbrei uma situação muito semelhante à do experimento de Asch, no qual haveria um grupo de aliados e um sujeito ingênuo e, ao invés de confrontar as linhas sobre uma cartela, cada um deles teria um gerador de choque. Em outras palavras, transformei o experimento de Asch em outro, no qual o grupo administraria choques de intensidade cada vez maior a uma pessoa, e a pergunta seria: até que ponto o indivíduo continuaria acompanhando o grupo? Esse não é, todavia, o experimento sobre obediência, mas é um passo naquela direção. Depois, eu queria saber como é que seria organizado realmente. O que se constituiria em controle experimental nessa situação? No experimento de Asch há um controle – a proporção de julgamentos corretos que a pessoa faz na ausência da pressão do grupo. Assim, eu disse a mim mesmo: Bem, creio que eu teria de estudar uma pessoa nessa situação, na ausência de qualquer pressão do grupo. Mas então, como se induziria a pessoa a aumentar os choques? Quero dizer, qual seria a força que induziria alguém a aumentar os choques? E então ocorreu-me o pensamento de que o experimentador teria que dizer à pessoa que aplicasse choques cada vez mais fortes. Exatamente até onde uma pessoa vai, quando um experimentador a instrui a dar choques cada vez mais fortes? Imediatamente, soube que aquele era o problema que eu deveria investigar. Foi um momento muito importante para mim, porque compreendi que embora fosse uma questão muito simples, ela admitiria a medição, a investigação precisa. Poder-se-ia ver as variáveis a serem estudadas, sendo que a medida dependente seria até onde a pessoa chegaria na administração dos choques.
Fonte: Evans, R. I. 1979 [1976]. Construtores da psicologia. SP, Summus & Edusp.
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