20 outubro 2009

Psicologia da ciência

Abraham Maslow

A ciência tem as suas origens nas necessidades de conhecer e compreender (ou explicar), isto é, nas necessidades cognitivas [...]. Noutro trabalho [...], resumi as várias provas que me levam a crer serem essas necessidades do tipo instintivo, constituindo, portanto, características que definem o homem (embora não só o homem) e a espécie. Nesse mesmo artigo, tentei fazer a diferença entre as atividades cognitivas investigadas pela ansiedade e as que são levadas a cabo sem medo ou contra o medo e que podem assim considerar-se como ‘saudáveis’. Quer dizer, os impulsos científicos são condicionados, quer pelo medo, quer pela coragem, e adquirem características diferentes em cada caso.

A curiosidade, a exploração, a manipulação, quando provocadas pelo medo ou pela ansiedade, aparecem como tendo por principal objetivo abafar a ansiedade. O que do ponto de vista de comportamento surge como interesse pela natureza do objeto que se estuda ou do domínio que se explora, pode ser sobretudo um esforço do organismo para ele próprio se acalmar e para fazer baixar a tensão, vigilância e apreensão. O objeto desconhecido é nesse caso acima de tudo um gerador de ansiedade e o ato de o examinar e experimentar é, em primeiro lugar e principalmente, uma esterilização do objeto, transformando-o em algo de que não há que ter medo. Alguns organismos, uma vez sossegados, podem então passar, sem mais, a examinar o objeto por ele próprio, com uma curiosidade pela realidade que existe independente, por si só. Outros organismos, porém, podem perder todo o interesse no objeto uma vez este esterilizado, tornado familiar [...], e deixando de provocar o medo. Isto é, a familiarização pode provocar desatenção e aborrecimento.
[...]

Fonte: Deus, J. D., org. 1979. A crítica da ciência, 2ª edição. RJ, Zahar. Texto originalmente publicado em 1966.

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