Ciência como atividade humana
George F. Kneller
1.
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Olhando através da História, verificamos que a natureza tem sido estudada por várias razões. No Liceu de Aristóteles, ela era estudada para esclarecer e aperfeiçoar aquele que buscava o conhecimento; na Europa renascentista, para desvendar o plano de Deus em Sua criação; nos tempos modernos, para ampliar o conhecimento, tanto por amor ao saber quanto por seus usos sociais e técnicos. Mas os cientistas parecem ter sido inspirados menos por esses ambiciosos propósitos do que por duas emoções primordiais: o assombro e o medo. O homem primitivo estava em grande parte à mercê da natureza. Talvez o seu motivo mais forte para instigação natural fosse atingir a paz de espírito, através de alguma explicação plausível para os desastres da natureza. Ele queria descobrir a causa de terremotos, inundações, incêndios, e doenças. Na China os filósofos naturais taoístas, na Europa antiga os estóicos, os epicuristas e os adeptos do atomista Demócrito, todos praticavam a Ciência por esse motivo. Epicuro escreveu que, “se não fôssemos perturbados por apreensões acerca de fenômenos no céu e a respeito da morte, se nada disso nos afetasse de um modo ou de outro, e também se não fôssemos perturbados por nosso fracasso em perceber os limites das dores e dos desejos, não teríamos necessidade alguma de estudar a natureza”.
O medo é aliviado pelo reconhecimento de que a natureza é ordenada e inteligível. O assombro começa com esse reconhecimento. À medida que a Ciência crescia e os homens começavam a dominar o mundo, o assombro converteu-se na força motriz das grandes realizações científicas. [...]
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A finalidade da Ciência é chegar a um entendimento exato e abrangente da ordem da natureza. Como os elementos constituintes da natureza são quase infinitamente diversos, essa busca já consumiu muitos séculos e consumirá muitos mais. Por conseguinte, a Ciência é intrinsecamente histórica. Não só o conhecimento científico mas também as técnicas pelas quais ele é produzido, as tradições de pesquisa que o produzem e as instituições que as apóiam, tudo isso muda em resposta a desenvolvimentos nelas e no mundo social e cultural a que pertencem. Se quisermos entender o que a Ciência realmente é, devemos considerá-la em primeiro lugar e acima de tudo como uma sucessão de movimentos dentro do movimento histórico mais amplo da própria civilização.
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Fonte: Kneller, G. F. 1980. A Ciência como atividade humana. RJ & SP: Zahar & Edusp.
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