25 janeiro 2010

Economia política da urbanização

Paul Singer

Quando se pensa qualquer sociedade humana que tenha atingido o estágio de civilização urbana – em que a produção e/ou a captura de um excedente alimente permite a uma parte da população viver aglomerada, dedicando-se a outras atividades que não à produção de alimentos – a divisão entre urbe e campo aparece claramente aos olhos. São também aparentes as relações que se estabelecem entre os que vivem nas zonas urbanas e os que vivem na zona rural, mediante as quais os segundos fornecem aos primeiros parte da sua produção, em troca de produtos da cidade ou de certos serviços reais ou imaginários (governo, segurança, religião etc.). Já a divisão das mesmas sociedades em classes nem sempre aparece com a mesma clareza. Embora haja sempre uma estrutura social explícita, em castas, estamentos, grupos raciais ou religiosos etc., via de regra a divisão em classes não é óbvia. Um assalariado, por exemplo, pertence a uma classe diferente que o seu empregador, mas sendo ambos moradores da cidade (ou do campo) o seu status como membro da mesma comunidade ecológica é mais “evidente” que sua participação em classes diferentes. Somente em determinados momentos cruciais da história, quando a dinâmica da sociedade inclusiva enseja o enfrentamento global de classe contra classe, estando o futuro de toda sociedade em jogo, somente nestes momentos a estrutura de classes aparece à luz, sobrepujando as demais divisões sociais, inclusive a ecológica. Quando os camponeses da França arrasavam castelos, em apoio aos “sans-culottes” de Paris, ou quando os Junkers prussianos se aliaram aos industriais do Ruhr em apoio ao nazismo – para apontar apenas um momento revolucionário e outro contra-revolucionário – ninguém deixou de perceber que o antagonismo entre campo e cidade (ou entre agricultura e indústria) tinha um caráter historicamente muito menos decisivo que as contradições de classe.
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Fonte: Singer, P. 1979. Economia política da urbanização, 6ª edição. SP, Brasiliense.

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